quinta-feira, 7 de maio de 2009

Psyco-hooker

(Foto Duarte S.)

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Pagou-lhe antecipado. Oitenta reais.

Ela guardou o dinheiro na bolsa piton, entrou no quarto e sentou-se na cadeira de madeira torneada, cujo veniz arranhado denunciava anos de uso.
Ele veio logo após, largou as chaves do carro e a carteira de cigarros Carlton sobre a mesinha igualmente arranhada. Sentou-se diante dela e começou a falar da mulher, de seu temperamento instável e da falta de apetite sexual que apresentava nos últimos meses. Do quanto ela havia mudado nos últimos anos...

O programa que deveria ter 20 minutos, acabou durando três horas.
Ele pagou mais cem reais sem sequer tocar em um fio de seu cabelo.

Naquela noite, só queria foder com um par de ouvidos.

Aquilo tornou-se hábito.
No início, uma vez por semana, depois mais.
Sempre pagava antecipado e além do combinado. Primeiro falava da esposa, dos filhos, do trabalho, dos amigos, do futebol, depois lhe beijava a boca demoradamente e lhe fodia aliviado, agora aproveitando também outros orifícios.

Com o dinheiro extra que estava ganhando, ela conseguiu pagar a faculdade de psicologia, seu sonho de infância.

Hoje além de ganhar por programa, também ganha por sessão.

terça-feira, 5 de maio de 2009

O Vale das Línguas

(Foto Ben Goossens)

Estive tantas vezes no Vale das Línguas que podia encontrá-lo de olhos fechados.
No alto do pórtico, Nosferatu regurgitava vespas incandescentes sobre a cabeça dos passantes. Após a entrada, um corredor polonês de seu séquito de sentinelas apontava suas lanças perpendicularmente. Era impossível atravessar o corredor sem ter a pele riscada e, algumas vezes, até a carne desfiada pelas afiadas línguas dos 80 guardiões. Já no Vale, os caminhos e atalhos sempre levavam ao mesmo lugar: à boca do mundo, onde todos eram engolidos, cedo ou tarde. Entretanto, alguns cuidados eram imprescindíveis, já que ferinas, peçonhentas e mortais línguas disputavam palmo a palmo os corpos que acabavam condenados ao Vale. A saliva que produziam causavam queimaduras, úlceras e lacerações. Por outro, lado existiam as voluptuosas, que preferiam circundar as zonas erógenas dos réprobos. Giravam em torno de seus mamilos e invadiam vulvas e ânus, causando-lhes furor e êxtase.

Em minhas andanças, sempre que caía no Vale, eu acabava deixando um pouco de mim...